Artigo

Pe. Ronaldo Borel de Freitas

Por uma igreja toda ela ministerial

Por Pe. Ronaldo Borel de Freitas

 

A Constituição Dogmática “Lumen Gentium” sobre a Igreja, em seu capítulo “O Povo de Deus”, afirma que “o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo” (Lumen Gentium 10). Todos os batizados, portanto, são chamados a uma participação ativa na ação missionária eclesial, dando vida e vitalidade à Igreja e nos conduzindo a uma comunhão mais profunda para a nossa missão no mundo. Essa compreensão evitará o equívoco grave de querer estabelecer uma oposição entre os ministérios ordenados e os não ordenados. O propósito assumido por todos aqueles que são batizados na comunidade de fé é o mesmo: o compromisso com o anúncio do Reino de Deus.

O Santo Padre, o Papa Francisco, convocou, para outubro de 2023, a 16ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, que tem por tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.  Os ministérios dos leigos/leigas juntamente com os ministérios ordenados se unem, cada vez mais, em vista da sinodalidade eclesial. Busca-se caminhar juntos, eliminando a possibilidade de uns desejarem se colocar acima dos outros. A busca permanente é caminhar, coletivamente, unidos no intuito da vivência de uma fé autêntica que dê condições de enfrentar os inúmeros desafios que se apresentam à nossa realidade. Nesse sentido, é fundamental compreender que “ministério” deriva de “ministerium” cujo significado é serviço, posição, função particular e comunitária. Por isso, os ministérios são importantes, pois estão intimamente ligados à pessoa de Jesus Cristo, sacerdote, profeta e pastor. É Deus quem confia os ministérios ao seu povo; por sua vez, os ministros ordenados ou não, são chamados a dar a vida como Nosso Senhor o fez: se entregou por amor a nós. Percebemos, ainda, que os ministérios possuem autoridade, mas vale destacar que o sentido dessa autoridade é vista como serviço, superando toda e qualquer atitude autoritária. Uma Igreja sinodal implicará um trabalho conjunto, um caminho trilhado com muito amor por todos, a fim de se realizar a missão que Deus nos confiou.

Uma Igreja ministerial vive impulsionada pelo Espirito Santo que suscita pessoas para o serviço do Reino de Deus, para a dinamicidade da comunidade eclesial e também a transformação do mundo. Sendo assim, nenhum ministério deve acomodar-se numa posição estática ou até de comodismo; preciso é, ministros ou não, ordenados ou não, participar, cada qual a seu modo, da missão da Igreja. Faz-se necessário tomar consciência de que “a Igreja é missionária por sua própria natureza” (Ad Gentes 2). Se não é missionária, deixa de ser a Igreja de Jesus Cristo; e todos nós somos chamados a dar testemunho da Igreja missionária. Uma Igreja missionária é capaz de “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (Evangelli Gaudium 20).

Evangelizar é preciso, mas afinal a quem deve ser atribuída essa nobre missão na Igreja? É certo que não se pode afirmar que o processo de evangelização deve ser de responsabilidade somente dos ministros ordenados, o que não contribuiria a superar o clericalismo, bem como o individualismo. Na Exortação Apostólica “Evangelli Nuntiandi”, o Papa Paulo VI diz: “a missão de evangelizar é da Igreja que deve ir por todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura; e acrescenta que toda a Igreja é missionária, a obra da evangelização é um dever fundamental do povo de Deus" (Evangelli Nuntiandi 59). Todo cristão se coloca sensível à escuta do Espírito, a fim de assumir a missão de evangelizar: pastores, religiosos e leigos, ambos apaixonados pela missão de anunciar eficazmente o Evangelho.  A Igreja reconhece e se alegra com o serviço de evangelização dos ministérios ordenados e não ordenados; são sujeitos eclesiais que assumem com autenticidade o seu discipulado missionário na Igreja e no mundo.

A diversidade de ministérios na Igreja é, sem sombra de dúvidas, uma riqueza imensurável. Mostra o quanto a Igreja tem sido conduzida amorosamente pelo divino Pai que continua chamando homens e mulheres para o serviço do Seu Reino. A realidade da fecundidade dos ministérios eclesiais na Igreja exige aprofundamento na direção de uma Igreja orientada para o serviço. Nossa Igreja é toda ela ministerial; essa afirmativa exprime uma verdade envolvente:  somos servidores. Inspirados na vida de Cristo, seus gestos e ações, nossa vocação será sempre servir. Disse Jesus: Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve (Lucas 22, 27). Façamos o mesmo!