Dicas de Homilía

DICAS DE HOMILIA - 12º Domingo do Tempo Comum

 

(Jó 38,1.8-11 / Sl 106 / 2Cor 5,14-17 / Mc 4,35-41)

 

O Medo dos Discípulos - A Tempestade Acalmada - A Nova Criação

 

A Liturgia da Palavra desse Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum traz o relato do Evangelho de Marcos no qual os discípulos encontram-se dentro da barca em meio as ondas e a tempestade. Cheios de grande temor e pavor, eles são colocados à prova para reconhecerem a presença de Jesus e nele depositarem a sua fé. Por fim, na Segunda Leitura de São Paulo aos Coríntios encontra-se a afirmação do apóstolo sobre a vida nova em Cristo que é a afirmação da graça de Deus na vida dos que o seguem.

        

No texto do Evangelho de Marcos, a manifestação de Jesus no lago da Galileia, que não deve ser lida como um fato miraculoso e nem como um espetáculo, ao contrário, ela tem o interesse de comunicar a presença do Senhor junto aos seus e a dificuldade deles de reconhecerem a sua presença. De fato, a tempestade em alto mar demonstra claramente o limite do homem e sua pequenez diante das forças que o mesmo não pode dominar. Em muitos momentos, o povo de Israel viu provada a sua fé diante das tempestades que viveu, momentos em que as seguranças tinham sido retiradas e o único auxílio possível vinha daquele que nunca falha, isto é, do Senhor. No relato do Evangelho, os discípulos, diante da tempestade, mostram-se com os corações cheios do medo, apavorados pela força das ondas e do vento que soprava contra a barca onde se encontravam. Em suas palavras: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”, encontra-se o grito de socorro dos discípulos, mas, ao mesmo tempo um respiro de esperança.

        

A humanidade inteira está passando por um momento de grande turbulência e sofrimentos, nunca antes o barco da vida humana foi tão agitado com uma tempestade de igual tamanho. O papa Francisco, no ano passado, afirmava que as ondas contrárias, a noite e o vento forte fazem surgir nos corações a mesma dúvida e pergunta que tinham os discípulos de Jesus: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”. Em todas as famílias, nos ambientes de trabalho, em todos os espaços nos quais as pessoas convivem, esta incerteza e dúvidas estão presentes. De fato, todos sem exceção estão passando por este tempo de Pandemia com as suas incertezas e dificuldades. Porém, esta realidade se torna ainda mais desafiadora para os que são lançados em condições de miséria e exclusão social. Na verdade, se por um lado a tempestade assola ferozmente a família humana, esta é sentida, ainda mais fortemente, por milhares de irmãos e irmãs que estão em situação de grande vulnerabilidade.

        

Depois de ter acalmado a tempestade e de ter calado os ventos contrários, Jesus reprova atitude dos discípulos que não souberam confiar e reconhecer a sua presença em meio a tempestade. A dúvida e o medo em seus corações impediram que eles fossem capazes de passar pela tempestade na certeza da companhia do Senhor. A confiança e a fé que o Senhor pedia dos discípulos estavam baseadas não em suas próprias seguranças, mas, na presença de Deus que está além da compreensão humana. Aos discípulos foi apresentada a possibilidade de que deixassem que a tempestade levasse consigo as suas próprias seguranças, a fim de que a sua fé fosse firmada em bases novas.

 

Neste tempo tão cheio de desafios e incertezas, muitos são aqueles que passam por grandes tempestades em sua história, percebem que o barco de suas vidas está à deriva e, com isso, são provados em sua fé. Seja no caso dos discípulos de outrora, quanto nos de nosso tempo, tais situações se tornam momentos propícios para que caiam as falsas seguranças e as bases da verdadeira fé sejam lançadas. Porém, o que possibilita esta mudança significativa de postura é a escuta da Palavra de Deus, pois, segundo o texto do Evangelho, foi a voz de Jesus que acalmou a tempestade e cessou os ventos. De fato, na escuta da Palavra o coração do discípulo missionário é iluminado e fortalecido, a fim de que se torne, pela graça divina, capaz de se sustentar e manter-se fiel, diante das grandes tempestades da vida. Ao mesmo tempo que é a na escuta da Palavra que o novo homem e mulher nascem, marcados pelos valores do Evangelho, capazes de sentirem compaixão de todos os que passam por grandes tribulações. Sendo assim, o verdadeiro discípulo de Cristo não é aquele que se preocupa somente com a sua experiência religiosa e com a superação de seus próprios medos e inseguranças. Pois, a verdadeira experiência de fé é marcada pelo testemunho concreto do amor solidário e compassivo de Cristo, ou seja, requer um comprometimento com a defesa da vida tão sofrida e desconsiderada ainda hoje.

 

Por fim, nas palavras de Paulo em sua Segunda Carta aos Coríntios (2Cor 5,11-21), podemos perceber a força avassaladora do amor de Cristo derramado em seu coração por ocasião do seu encontro com o ressuscitado. De fato, encontramos retratada esta experiência única na vida de Paulo, a qual ele constantemente se refere como indelevelmente impressa no seu coração. A ação redentora de Cristo, por meio de sua cruz, é a manifestação plena de seu amor, tomando por completo a vida do apóstolo, sendo responsável por dar ao seu ministério ânimo e vigor. Essa comunhão com o Amor do Coração de Cristo é uma força que o envolve totalmente, tomando-o por inteiro, expressão de sua experiência de fé, que ele torna um paradigma para todo fiel cristão. Isto é, o apóstolo expõe o fato dele estar ligado a Cristo, confirmando assim a veracidade do evento que transformou completamente a sua vida. Neste caso, podemos dizer que o amor de Cristo é o centro de toda moral paulina, marcando profundamente o agir do apóstolo que se percebe resgatado por Cristo e, por conseguinte, pertencente a Ele. Tudo isso deve inspirar os fiéis a uma mesma postura em suas vidas e uma mesma atitude de entrega e amor, seja em relação a Deus, pela adesão à fé, seja em relação aos irmãos, através gestos concretos de caridade.

 

O amor criativo e comprometido insere o homem numa dinâmica totalmente nova, onde os critérios deste mundo, os julgamentos e o modo de conhecer as pessoas passam, dando lugar a um comportamento guiado pela visão livre do pecado e inserida na vida nova em Cristo. Este aspecto novo do amor de Cristo se atualiza na vida do fiel por intermédio da nova criação em Cristo. Assim sendo, a entrega total de Cristo na cruz adquire sentido e o Seu amor nela revelado, é acolhido como caminho de vida para os seus discípulos e discípulas. Esses que são chamados a manifestarem ao mundo este mesmo amor que se doa totalmente, um amor que vai além dos limites estabelecidos, o amor do Coração de Cristo. Particularmente, neste tempo marcado por tantas dores e perdas, pelo sofrimento de famílias inteiras que passam por privações e perda de direitos adquiridos. Na verdade, é possível afirmar que é este o tempo do amor criativo e compassivo, que nasce no coração de todos os que superam os seus medos e inseguranças e reconhecem em suas vidas a presença do Senhor. A fim de que unidos a Ele se dirijam com a Alegria do Evangelho na direção dos que mais precisam e anseiam pela visita de Deus.

 

Que a Liturgia da Palavra deste Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum seja um convite à confiança e ao reconhecimento da presença de Deus nas pequenas coisas da vida, de maneira especial, diante das dificuldades e dos problemas. A fim de que, mesmo em meio as grandes tempestades seja o olhar do Senhor a grande fonte de confiança dos discípulos, de modo que com os olhos fixos no Senhor tudo seja superado. De modo que todos possam amadurecer no caminho do seguimento, sendo capazes de gestos concretos de compaixão e amor criativo e comprometido junto a todos que ainda sofrem em meio às grandes tempestades que a vida apresenta.

 

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

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