Dicas de Homilía

DICAS DE HOMILIA - 17º Domingo do Tempo Comum

(2Rs 4,42-44 / Sl 144 / Ef 4,1-6 / Jo 6,1-15)

O olhar de Jesus - O Verdadeiro Alimento - Instruídos e Fortalecidos para a Missão

 

A Liturgia desse Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum apresenta, na Primeira Leitura, no Salmo e no Evangelho o Senhor como Aquele que cuida e alimenta o seu povo. De maneira especial, no relato da multiplicação dos pães proposto pelo Evangelho de João, Jesus é posto como quem tem um olhar atento para as necessidades da multidão que Dele se aproxima. Ele oferece à multidão faminta o pão multiplicado e partilhado, numa alusão clara à Celebração da Eucaristia, na qual Ele mesmo se oferece como o Verdadeiro Pão descido do céu. Sendo assim, os discípulos não somente são alimentados, mas, sobretudo, instruídos pelo Senhor, enviados para a missão.

A Primeira Leitura e o Salmo Responsorial proclamam a certeza que o povo de Israel sente em ser cuidadosamente guiado pelo Senhor em seus caminhos. Nada falta para aqueles que Nele depositam a sua total confiança, de modo que recebem tudo o que precisam no tempo devido. De fato, tal certeza foi crescendo e firmando-se no coração dos filhos e filhas do Senhor diante de cada desafio superado. Sem dúvida alguma, sentiam-se acompanhados pelo Senhor, à medida que percorriam as estradas duras do caminho de retorno da terra da escravidão, depois do longo período passado no Egito, ou também, no seu retorno à sua terra depois dos anos vividos no Exílio. Desse modo, a experiência do olhar atento de Deus para com as suas necessidades fez com que o povo de Israel crescesse na certeza de que o Senhor velava por Eles, como um Pai por seus filhos e filhas.      

No Evangelho, a postura atenta de Jesus, diante das necessidades da multidão que a Ele se dirigia, foi também a confirmação do olhar amoroso e atento de Deus, pousado sobre as necessidades dos seus filhos e filhas. No relato, Jesus está rodeado de seus discípulos e, de longe, vê uma grande multidão que vem ao Seu encontro, impulsionada pela Palavra que Ele anunciava e pelos sinais que realizava, o texto ainda ressalta o gesto de Jesus de levantar os olhos e enxergar a multidão que Dele se aproximava. O autor do Evangelho, ao descrever o local onde Jesus se encontrava, indica que era um local isolado, com muita relva, numa alusão e apresentação de Jesus como o Pastor, capaz de atrair para si o seu rebanho. No olhar atento e compassivo de Cristo está o grande sinal do cuidado de Deus para com os seus filhos e filhas. Jesus foi capaz de ir além do que aqueles homens e mulheres procuravam, viu profundamente a sua necessidade e reconheceu a sua busca, sendo capaz de lhes oferecer muito mais que esperavam. De fato, não é somente nesse relato da multiplicação dos pães que é ressaltado o olhar atento de Jesus em reconhecer, em ser capaz de perceber e ir ao encontro das muitas necessidades dos que estavam diante Dele. Muitas são as vezes em que o seu olhar vai além das aparências e chega aos corações das pessoas, saciando-as com muito mais do que procuravam ou esperavam. Foi o olhar de Cristo que o levou sempre na direção dos pequenos e pobres, ou o seu olhar misericordioso e compassivo que o moveu até à doação da própria vida.   

O cuidado de Deus é manifestado tanto na Primeira Leitura, no Salmo Responsorial e também no Evangelho, quando Jesus garante à multidão o alimento da Palavra e do pão multiplicado. Foi por meio da força da Palavra anunciada, dos sinais realizados pelo Senhor que a multidão foi atraída até Jesus. A cena da multiplicação dos pães acontece, segundo o próprio Evangelho, próxima da Páscoa dos Judeus, isto é, no momento em que celebravam a Libertação do Egito. Desse modo, ao alimentar a multidão faminta, Jesus realiza um grande sinal, que deve ser compreendido à luz de sua entrega na cruz.  Assim como os demais sinais do Quarto Evangelho, que precisam ser entendidos com maior profundidade, o sinal da multiplicação dos pães quer indicar para o Verdadeiro Alimento, capaz de saciar toda a fome. Pois, na multiplicação dos pães, no diálogo instaurado com o judeus, que reconhecem ter recebido, por meio de Moisés, o pão descido do céu, é Jesus que é  apresentado como Aquele que, de fato, traz o Pão Vivo descido do céu. Algo que está presente no restante do capítulo 6 do Evangelho proclamado na liturgia. Sendo assim, a multiplicação dos pães deve elevar o olhar de todos na direção da Eucaristia e o seu maior significado, isto é, a participação, comunhão e partilha do Corpo e Sangue do Senhor, Pão Vivo descido do céu. Sendo assim, a multiplicação dos pães vai além do fato de dar alimento a uma multidão faminta, ela indica o Verdadeiro Alimento, aquele que deve ser buscado e desejado, por todos os que desejam se tornar verdadeiros discípulos e discípulas missionários.

Por fim, a Liturgia desse Domingo também apresenta, a partir da experiência que fazem os discípulos do Senhor, do cuidado divino, manifestado no Pão Vivo descido do céu, a missão dos cristãos.  No Evangelho, Jesus é apresentado ao centro, sentado com seus discípulos ao  redor dele. De fato, a sua postura não indica que Ele está ali, somente para alimentar a multidão, mas, sobretudo, para formar os seus discípulos, isto é, ensiná-los a como fazer o mesmo que Ele fez. O gesto realizado por Ele de multiplicar os pães, colocado, como referido antes, próximo da Páscoa dos judeus, é uma antecipação da última ceia, quando Ele dará o seu Corpo e Sangue, como comida e bebida de salvação. Jesus antecipa o seu gesto salvífico diante dos seus discípulos, de modo que, recebendo Dele o seu ensinamento, eles sejam capazes do mesmo gesto de partilha e comprometimento. No relato do Evangelho, todo os gestos de Jesus, desde tomar o pão, dar graças, partir e o distribuir a todos, remetem à Eucaristia. Do mesmo modo, a forma verbal grega utilizada para descrever o gesto de distribuir, de partilhar o pão, é o mesmo utilizado na última ceia quando Jesus distribui o Seu Corpo e Sangue aos seus discípulos. Desse modo, a multiplicação dos pães, não deve ser vista como um fim em si mesma, algo que o próprio Jesus indica, quando, multiplica os pães a partir de algo que os discípulos trazem para Ele. Desse modo, o pouco que eles trazem, o que eles partilham, torna-se alimento em abundância nas mãos do Mestre.

O gesto da multiplicação dos pães, sinal claro do olhar de Cristo pousado nas necessidades do povo, manifestação do cuidado e amor divinos, é também espaço de formação para os verdadeiros discípulos missionários. Esses sempre estão ao redor do Mestre, os seus passos são guiados pelos passos de Jesus e os seus olhares voltados para o modo de agir Daquele que decidiram seguir. Sendo assim, uma vez mais, eles são formados para a missão, apesar de se sentirem pequenos e frágeis, diante da grande multidão faminta, são capazes de confiar no Senhor que os envia em missão. Assim sendo, os discípulos são convidados a ir ao Mestre, deixarem que Ele os guie e conduza nos caminhos a serem trilhados. No caso do relato da multiplicação dos pães, cada discípulo, tendo feito a experiência de ver os pães, pelas mãos do Senhor se multiplicarem, foi enriquecido e cresce na Fé. De modo que, sendo enviado em Missão, possa reproduzir os gestos de cuidado e atenção do Mestre, sendo capazes de se tornarem próximos e levar, desse modo, o cuidado de Deus para todos      

Que a Liturgia desse Domingo convide a todos a olhar fixamente para o Mestre, para o Pastor, a fim de que, unidos a Ele todos possam ser alimentados e formados como verdadeiros discípulos missionários. Capazes de colocar, com confiança, nas mãos do Senhor o pouco que cada um tem, na certeza de Ele fará multiplicar o esforço e compromisso de cada um.

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

Comentários