Dicas de Homilía
DICAS DE HOMILIA - 16º Domingo do Tempo Comum
(Jr 23,1-6 / Sl 22 / Ef 2,13-18 / Mc 6,30-34)
O cuidado do Bom Pastor - A compaixão do Bom Pastor - A missão dos bons pastores
A liturgia desse Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum apresenta, na Primeira Leitura e no Salmo, o cuidado do Bom Pastor para com o rebanho, sua atenção e presença contínuas. Já no Evangelho de Marcos, Jesus é movido pela compaixão diante do povo sofrido, que se apresentava, diante dele, como ovelhas sem o verdadeiro pastor. Nesse sentido, o cuidado e a compaixão do Bom Pastor revelam a missão dos discípulos missionários, chamados a serem bons pastores, à exemplo do Bom Pastor.
O texto da Primeira Leitura e o Salmo Responsorial ressaltam o cuidado do Bom Pastor, diante das necessidades do rebanho à ele confiado. O profeta Jeremias denuncia a atitude dos maus pastores que usufruem do que o rebanho pode oferecer, mas, diante do perigo eminente, abandonam as ovelhas à própria sorte e fogem. Segundo o profeta é o próprio Senhor que tomara para si o cuidado do rebanho que ele conquistou, numa referência clara à libertação do Egito. De fato, a leitura indica o cuidado do Bom Pastor para com as muitas necessidades de suas ovelhas, de maneira especial, revelando o desejo de Deus de levar o rebanho ao melhor caminho. Sendo assim, a proposta do profeta coloca em relevo que os passos do rebanho são seguidos atentamente pelo Pastor, que não somente repreende aos maus pastores, que descuidaram do rebanho à eles confiado, mas, sobretudo, toma para Si a responsabilidade do cuidado de suas ovelhas. Tal cuidado é sentido também nas palavras do Salmo Responsorial, que é um cântico de peregrinação e era cantado pelos peregrinos que subiam para a Cidade Santa, Jerusalém. O salmista, tendo feito uma profunda experiência do cuidado divino, canta a alegria de ser sempre acompanhado pelo Senhor, em todos os seus passos. A sua alegria está fundamentada na confiança de saber-se guiado e cuidado pelo Bom Pastor, por aquele que conhece as suas ovelhas e reconhece todas as suas necessidades. Sendo assim tanto a Leitura, quanto o Salmo Responsorial celebram o cuidado divino, algo que está na base da profissão de Fé de Israel, isto é, saber-se povo escolhido, guiado e protegido pelo Senhor Todo Poderoso, o Bom Pastor.
No texto do Evangelho de Marcos, o evangelista acentua uma outra característica fundamental do Bom Pastor que é a compaixão. No relato, Jesus se desloca para um lugar solitário com os seus discípulos, mas, logo são alcançados pela multidão faminta e sedenta. Ao vê-los Jesus é movido de compaixão, pois pareciam como ovelhas sem os cuidados do pastor. Sendo assim, o evangelista ressalta que toda a missão e os gestos de Jesus nascem no compromisso da compaixão, que, nesse sentido, é mais do que um sentimento, pois revela uma escolha de vida. Ao apresentar Jesus cheio de compaixão e a multidão sem os cuidados do pastor, o evangelista toma essa figura, muito conhecida na experiência religiosa de Israel, para traduzir o cuidado amoroso de Deus para com o seu povo. Jesus é movido pela compaixão, que na Sagrada Escritura é comparada ao amor de uma mãe por seu filho que sofre. Por isso, a compaixão não é somente um sentimento, mas um modo, uma escolha de vida, algo que rege todas as ações e os passos de Jesus. Ela ocupa um lugar central na ação de Jesus, que se desdobra, se move, torna-se próximo e se doa, até às últimas consequências, ou seja, até à morte na cruz. Sendo assim, na escolha e no movimento provocado pela compaixão, diante das necessidades do povo perdido e abandonado, Jesus é colocado como um modelo a ser seguido por seus discípulos em sua missão. Isto é, todos os que seguem o Senhor como seus discípulos missionários são chamados a viverem as escolhas que nascem da compaixão.
Diante do cuidado do Bom Pastor apresentado na Primeira Leitura e da Compaixão que movia Jesus, relatada no Evangelho, nasce a missão dos discípulos e discípulas missionários. De fato, ao apresentar o cuidado e a compaixão, a liturgia ressalta como deve ser a missão dos fiéis cristãos, ou seja, tornarem-se bons pastores, principalmente colocando-se ao lado dos que mais precisam. De fato, a experiência que a liturgia da Palavra propõe para cada um que dela participa é a de reconhecer os cuidados de Deus em sua própria vida. Ao mesmo tempo em que acolhe a Cristo Bom Pastor, cheio de compaixão e solidariedade, aquele que se faz sempre próximo de cada um. Sendo assim, seja pelo cuidado divino e pela compaixão, o fiel deveria ser tocado pela graça de Deus, deixando-se moldar, pelo Bom Pastor, como verdadeiros pastores uns dos outros.
Os verdadeiros pastores, aqueles que acolhem a missão de cuidarem dos irmãos à exemplo do próprio Deus, são gerados no convívio com Jesus, na escuta de Sua Palavra e na vivência dos Sacramentos de sua graça. De fato, somente sendo formados na escola do cuidado e da compaixão é que nascerão verdadeiros discípulos missionários, homens e mulheres que desejam fazer de suas vidas um sinal do amor de Deus. Esses serão tocados para o compromisso missionário pela graça que receberam, por terem visto, nas próprias vidas os cuidados e a compaixão do Senhor. Desse modo, não somente proclamarão a misericórdia divina, mas, sobretudo, dela serão sinais visíveis, palpáveis, por meio do amor comprometido e solidário. Pois Jesus assumiu sobre Si mesmo as dores da humanidade sofrida e marcada pelos desafios do caminho, pela exclusão e pelo descaso dos que dela deveriam cuidar. E como Ele foi capaz de se colocar ao lado, tornar-se próximo, ir na direção dos que estavam caídos à beira do caminho, do mesmo modo ele enviará os seus discípulos missionários. Por isso, os discípulos de Cristo são enviados a manifestarem o cuidado e a compaixão do Bom Pastor hoje diante dos muitos sofrimentos e dificuldades, pelas quais passam os filhos e filhas de Deus. Eles são chamados e enviados a curar e resgatar, guiar e conduzir todos os que encontrarem, levando-os aos braços amorosos do Bom Pastor. Sendo assim, a missão de serem bons pastores deve ser acolhida por todos os que desejam seguir Cristo, Bom Pastor, de modo que se tornem sinais reais e visíveis, claros e concretos do Seu cuidado e de Sua compaixão.
Que a liturgia desse Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum ajude a todos a fazerem uma experiência profunda do cuidado e da compaixão do Bom Pastor. De modo que, animados e impulsionados por tamanho Amor, assumam com alegria e disponibilidade a missão de se tornarem bons pastores, principalmente dos que mais necessitam e sofrem. Que seja o Senhor Compassivo e Misericordioso a guiar e formar os seus verdadeiros discípulos missionários, homens e mulheres novos, para um mundo novo, mais fraterno, justo e solidário.
Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza