Dicas de Homilía

DICAS DE HOMILIA - 10º Domingo do Tempo Comum

 

(Gn 3,9-15 / Sl 129 / 2Cor 4,13-18-5,1 / Mc 3,20-35)

 

Desvestidos de Deus - Revestidos de Cristo - Acolhidos na Nova Família

 

A liturgia desse Décimo Domingo do Tempo Comum apresenta um caminho que parte desde a negação de Adão até a apresentação da Nova Família reunida ao redor de Cristo, formada pela escuta e prática da Palavra de Deus. No relato do Livro do Gênesis encontra-se o diálogo entre Deus e Adão, ocorrido logo depois do pecado do primeiro homem, no qual ele se apresenta desvestido da comunhão com o seu Criador. Na Segunda Leitura, o apóstolo Paulo afirma a renovação do homem interior, que liberto das amarras do pecado por meio de sua união a Cristo, vai aos poucos se revestindo da glória do Ressuscitado. Ainda nessa direção, no Evangelho, Jesus aponta para o nascimento de uma Nova Família, marcada pelos laços da acolhida e prática da Vontade de Deus.

 

A Primeira Leitura do Livro do Gênesis apresenta o primeiro diálogo entre Deus e  Adão, algo que, segundo indica o relato, parecia ser frequente. Deus vem ao encontro do homem que se esconde do Seu Criador, procurando disfarçar a sua nudez, algo que ele reconhece logo após ter escolhido a si mesmo, afastando-se da comunhão com o Senhor. Ao perceber a presença de Deus, Adão procura esconder a sua nudez, isto é, reconhece-se desvestido de Deus, percebe-se fora da comunhão com Aquele que o criou.  De fato, ao afastar-se da comunhão com o Senhor, escolhendo a si mesmo e deixando para traz os ensinamentos e orientações recebidas por Aquele que o criou, o primeiro homem perde o que o distinguia de todos os animais criados, isto é, a capacidade de dialogar com Deus. Ele perde a comunhão, perde a intimidade com o Seu Criador, por isso, mergulhado no pecado ele se reconhece nu, isto é, desvestido de Deus, desvestido da graça e, por isso, fora da comunhão, incapaz de se apresentar diante do Senhor. Deus, por sua vez, procura aquele que criou à sua imagem e semelhança, no desejo de encontrá-lo, como sempre fazia ao cair da tarde no jardim do Éden. A pergunta amorosa de Deus, que sempre vem ao encontro de seus filhos e filhas: "onde você está?", ressoou no coração de Adão e deve ressoar no coração de cada homem e mulher. Por medo, Adão se esconde, foge da presença de Deus que o tinha criado por amor e para a comunhão.

 

O pecado o desveste de Deus, fazendo com que ele perca a liberdade de se apresentar diante do Senhor, com o coração livre e aberto, capaz de instaurar um diálogo de comunhão e amor. Desse modo, torna-se clara a situação de Adão, espoliado, desvestido de Deus ele perde a semelhança com o Senhor, tornando-se incapaz de dialogar em comunhão e liberdade com Deus. As consequências do pecado alastram-se no coração da humanidade que acaba por perder o que a identificava com o Seu Criador, isto é a capacidade de comunhão, não somente com o Criador, mas, também com os semelhantes. Sendo assim, ao ser desvestido de Deus, o homem perde também a capacidade de perceber-se parte de uma família construída por meio dos laços da comunhão e partilha. Tal situação se alastra e se dissemina no seio da civilização, causando sofrimento e dor, fazendo com que o homem perca o sentido e a responsabilidade da defesa da vida e da dignidade humana. A perder o que o identificava com o seu Criador, o homem perde-se a si mesmo, distanciando-se dos seus semelhantes. Desse modo, as consequências do pecado são visíveis em todos os âmbitos da sociedade, visto que, o homem se esconde de Deus e, por isso, perde de vista o que o une aos seus semelhantes. Sendo assim, o pecado de Adão o afasta Daquele que lhe deu a vida, de modo que, a espera de Adão tenha início, isto é, a expectativa de que um dia o que ele perdeu pudesse ser de novo lhe oferecido, algo que acontece por meio do Filho Eterno de Deus feito homem: Jesus de Nazaré.

 

Na Segunda Leitura, o apóstolo Paulo afirma aos Coríntios que Deus  ressuscitou o Seu Filho, acolherá de novo, a humanidade inteira por laços que jamais serão rompidos. Ele reconhece que a ressurreição de Cristo é a garantia de que o pecado de Adão foi superado e que, os que outrora foram desvestidos de Deus, agora são revestidos de Cristo. De fato, as palavras de Paulo devem ser fonte de grande ânimo e coragem, devem ressoar nos corações de todos, que marcados pelo pecado de Adão, esperavam ansiosos a graça de Deus. Sendo assim, ao afirmar que em Cristo todos seriam reunidos e acolhidos na presença de Deus, o apóstolo afirma o início de um novo tempo, isto é, o tempo da comunhão e da graça de Deus. Em suas palavras, ele dirige aos Coríntios e à toda a Igreja um convite que contém em si uma grande esperança e promessa, ou seja, a renovação do homem interior. De fato, em Adão, todos foram desvestidos de Deus, perdem a comunhão com o Criador e se afastam Daquele que a todos deu a vida. Por outro lado, em Cristo, por meio de sua entrega total na cruz, todos são acolhidos e chamados de volta à comunhão com o Senhor, revestidos da glória do Ressuscitado. Desse modo, o que com Adão foi perdido, em Cristo foi oferecido de modo abundante e irrestrito, isto é, oferecido gratuitamente a todos.

 

Desse modo, aquele que adere a Cristo, por meio da profissão de Fé, é revestido da vida nova que nasce na vitória de Cristo na cruz. Por isso, todos os que se aproximam do Ressuscitado, e a Ele seguem, são gradativamente transformados em novos homens e mulheres, à exemplo do que afirma Paulo sobre a nova criação. Pois, pela morte e ressurreição do Senhor o pecado perde o seu domínio, o muro que separava e impedia a comunhão entre Deus e os seus filhos é destruído e aqueles que estavam nus, isto é, fora da comunhão, recebem as vestes nupciais do Cordeiro Imolado. Sendo assim, os discípulos de Cristo, ou seja, aqueles que a Ele se unem e o seguem são revestidos, pela graça de Deus e pelo empenho de cada um, dos valores do Evangelho. Algo que os distingue e os faz recuperarem a dignidade perdida pelo pecado de Adão e, mais do que isso, o inserem numa nova família, marcada pelos laços da comunhão com o Senhor e com os irmãos.

 

A Nova Família formada pelos discípulos e discípulas de Cristo é apresentada por Jesus no Evangelho de Marcos, proclamado na liturgia dominical. Ele indica que são superados os laços consanguíneos, quando afirma que a sua mãe e os seus irmãos são todos os que fazem a vontade do Pai, apontando quais são os indicadores de participação na Nova Família dos filhos e filhas de Deus. De fato, se o pecado de Adão rompeu com os laços da comunhão do Senhor com aqueles que Ele criou, em Cristo, por sua vez, todas as barreiras foram rompidas e os laços da comunhão foram refeitos. Desse modo, ao apresentar o cumprimento da Vontade do Pai como critério de participação na Nova Família de Deus, que tem início em sua entrega na cruz, Ele aponta um caminho a ser seguido por todos. Aqueles que são revestidos de Cristo, marcados e selados por Seu amor, oferecido gratuitamente na cruz, devem assumir para si o compromisso de atualizarem no mundo a salvação e a redenção que os uniu ao Senhor. De fato, cumprir a vontade do Pai, significa levar a todos os sinais do Reino, realizar na vida o que o Senhor indicou como caminho para os seus discípulos. Se Deus foi ao encontro de Adão, por meio de Seu Filho recuperou a humanidade para si, devolvendo à mesma a sua dignidade perdida, do mesmo modo, devem fazer todos os que fazem parte da Nova Família de Deus. A missão dos membros dessa nova família é a de fazer do mundo um lugar para todos os filhos e filhas de Deus, anunciando o Reino e denunciando tudo o que lhe é contrário, a fim de que todos tenham vida em abundância. Sendo assim, a missão de Jesus foi confiada aos seus irmãos e irmãs, ela foi colocada no coração de seus discípulos missionários, a fim de que se tornem sinais claros da Nova Família reunida pelo Ressuscitado.

 

Que a liturgia desse Décimo Domingo do Tempo Comum seja capaz de indicar um caminho de vida para todos os fiéis, marcados pelo chamado de participarem da Nova Família de Deus. Que os sinais do pecado de Adão, que a todos desveste de Deus sejam superados pelo seguimento de Cristo, que a todos oferece as vestes da graça e da salvação. A fim de que, revestidos de Cristo, todos se esforcem para vestir os irmãos e irmãs que, ainda hoje, são desnudados de sua dignidade e direitos. De modo que a liturgia transforme a vida e os corações de todos os que dela participarem, de modo que se sintam chamados, não somente a participarem da Nova Família de Deus, mas a agirem conforme a Vontade do Pai.

 

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

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