Artigo

Rogério Ribeiro do Carmo

A Campanha e a realidade.

Por Rogério Ribeiro do Carmo

 


Não raro ouvimos dizer que “somos um país em desenvolvimento”, o que nos agrada e conforta. Mas a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, escancara um mal que assola nossa população, especialmente os mais carentes: o déficit do saneamento básico no Brasil. Portanto, não é uma campanha para tratar de problemas religiosos. A temática tem influência direta na saúde pública, meio ambiente, desenvolvimento econômico e desigualdades sociais.

É revelador e triste tomar conhecimento de que mais de 100 milhões de pessoas no país ainda não possuem coleta de esgoto e apenas 39% do esgoto é tratado. Pior quando ficamos sabendo que uma criança morre a cada 3 minutos por não ter acesso a água potável, por falta de redes de esgoto e por falta de higiene. São números que contrastam com a realidade de Cachoeiro de Itapemirim, onde moro, que apresenta índices de “primeiro mundo”, tendo 99.73% da população urbana atendida por abastecimento de água, 98,05% do esgoto coletado e, deste, 99.08% tratado. Cachoeiro é uma exceção que encobria, para mim, a dura realidade da maior parte do país e me deixou entorpecido, até agora.

Ao falarmos de saneamento básico, transferimos mecanicamente a culpa do problema para o poder público. Mas, a rigor, saneamento básico envolve também o manejo dos resíduos sólidos e a drenagem de águas pluviais. Neste sentido, quando falamos do lixo, podemos e devemos assumir uma parcela um pouco maior da culpa quando contribuímos para a geração demasiada e o descarte sem critério do nosso lixo doméstico. Claro, o poder público ainda possui a obrigação de providenciar a coleta e destinação final, mas contribuímos com parte do problema. Isso sem falar no descarte de óleo na pia e no uso exagerado de detergente, que agravam consideravelmente a situação do esgoto.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 expõe essa triste realidade e nos convida, independente de crença, convicção criacionista ou evolucionista, a retomar o amor e o cuidado pela Criação, pela casa onde todos nós moramos, a casa comum. Se pensarmos em uma escala maior, não existe “jogar lixo ou esgoto fora”, pois não existe “fora” nesse caso. É tudo aqui, neste planeta. Um país em desenvolvimento não pode negligenciar estas questões.

Cachoeiro, onde moro, não apresenta graves problemas quanto à distribuição de água tratada e coleta e tratamento de esgoto, e isso era confortável pra mim. Mas enquanto um ser humano do Brasil ou do mundo não tiver acesso ao básico do saneamento, isso é um problema meu, e seu também.

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Rogério Ribeiro do Carmo é engenheiro agrônomo e ministro extraordinário da pregação da Palavra da paróquia N. S. Graças, IBC, Cachoeiro.