Iniciamos no dia 18 de Fevereiro de 2015, um novo tempo litúrgico na Igreja: o tempo da Quaresma. A experiência do tempo marca a história do ser humano, pois só ele tem consciência que o tempo passa e que um dia a existência terrena terminará. Este drama humano o insere numa dinâmica de passado (memória), presente (instante) e futuro (imaginação). Experienciar o tempo é uma graça que pode nos fazer crescer em maturidade física e espiritual.

Deus é eterno, e é o autor do tempo. A sua Palavra fez com que a natureza e a humanidade viesse à vida. Ele criou o ser humano à sua imagem e semelhança, e a nossa missão na vida é ser à imagem e semelhança D´Ele. Para realizarmos este propósito Deus nos dá o tempo para nele alcançarmos esta meta. A Igreja, sinal de salvação, nos conduz neste caminho e aponta para nós o tempo da Quaresma como um “tempo de deserto”, onde nós voltamos para dentro de nós mesmos para arrumar nosso interior, restaurá-lo, purificá-lo e renová-lo.

Esse trabalho só é possível pela abertura do coração à graça de Deus. A fé, dom de Deus, nos motiva a adentrar neste caminho de iluminação de nossas “trevas”, com o olhar fixo em Jesus que é aquele que nos conduz com seu exemplo de humanidade. É o próprio Jesus, Deus que se fez humano, que nos convida a voltar para Deus e a reconciliarmos com Ele. O Mistério Pascal de Jesus é a estrada que nos conduz neste propósito e acende para nós a luz da fé que ilumina nossos passos.

Voltar-se para Deus é refazer nossas prioridades, é reconduzir nossos passos, é remexer nosso coração, é re-harmonizar nossa mente, é purificar nossos sentidos para chegar a um único destino: Deus. O mistério de Deus nos é revelado em Jesus Cristo e Ele é a nossa luz. A Igreja, aponta para a luz que é Jesus, e nos faz refletir nossa missão de iluminar a sociedade com a claridade que vem D´Ele. Só é capaz de iluminar quem já recebeu a luz. Por isso, o tempo da Quaresma, é um tempo de reacender a luz de Deus em nós olhando para o testemunho de Jesus em sua existência.

A Igreja, neste tempo, nos convida à oração, jejum e esmola. Três coisas que avaliam nossa maturidade em relação a Deus, a nós mesmos, ao outro e as coisas. A Igreja quer nos fazer crescer e amadurecer no caminho para Deus. Quer nos trazer transformação no tempo pedindo a nós que avaliemos nossa história no passado, no seu presente e em nossos propósitos para o futuro. Por isso, de maneira especial, Ela convida a confessarmos com Deus, através do sacerdote, para que o processo de restauração seja completo e a nossa vida volte a florescer como a natureza que recebe a chuva.

Que este tempo da Quaresma, seja um Kairós (Tempo de Graça) e que sejamos renovados em nossa fé, esperança e amor e que nossos gestos de solidariedade aos que sofrem sejam para nós como fermento que faz crescer a massa e que creiamos nestas palavras que o Profeta Ezequiel nos diz: “²⁵Derramarei sobre vocês uma água pura, e vocês ficarão purificados. Vou purificar vocês de todas as suas imundícies e de todos os seus ídolos. ²⁶Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne. ²⁷Colocarei dentro de vocês o meu espírito, para fazer com que vivam de acordo com meus estatutos e observem e coloquem em prática as minhas normas” (Ez 36,25-27).  Adentremos nesta experiência e deixemo-nos restaurar por Deus.