Artigo

Seminarista Huezer Viganô Sperandio

O Cristão e a Ecologia.

Por Seminarista Huezer Viganô Sperandio

 


No relato da criação do mundo (Gn1, 1-31), Deus, após criar toda a Terra, dá vida ao ser humano. Não como mais uma criatura, mas um ser de imagem e semelhança do Deus Criador, que deveria cuidar e retirar seu alimento deste grande jardim.

Nota-se que, o ser humano então, não é um ser isolado da Terra. É um ser que vive a dinâmica da natureza, estando integrado a ela. Sua vida e estadia na terra são cíclicas como de qualquer outro ser da natureza, seja animal ou vegetal, orgânico. Somos parte constituinte e integrante da natureza.

Cuidar do ambiente, então, é num primeiro momento, cuidar da vida e da perpetuação da nossa história humana. Devastar a natureza é devastar a vida humana. Quando ela sofre, nós sofremos mais ainda. São Francisco de Assis, vislumbrando Deus em todas as coisas, inspira-nos a constatar a natureza como o grande sacramento de Deus,vivendo uma nova dimensão do cristianismo, em que, não apenas os seres humanos são irmãos, mas toda a natureza recebia o doce nome de irmão e irmã. Instaura o respeito por toda criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. Hoje, soa-nos estranho, pois estamos inseridos numa cultura que se coloca por cima da natureza, dominando-a e esquece que estamos todos juntos, aos pés um do outro e formamos a grande comunidade de vida.

O cristianismo, através dos atos de Jesus cristo, vivencia o gosto pelo novo. Jesus esteve aberto a novos desafios, convidando seus discípulos a fazerem o mesmo e a interpretar os sinais dos tempos. Hoje, sem dúvida, é preciso ver que para o cuidado com a natureza, na consciência ecológica, o Espírito de Deus tenta soprar para provocar mudanças... mas os corações ainda estão endurecidos. É um convite a nos posicionarmos de maneira diferente no universo e a levar a sério a responsabilidade que temos sobre a criação, sobre a nossa própria vida. Ter fé em Cristo é assumir o desafio de cuidar de toda a sua criação, sem distinção.

É preciso, contudo, entender que uma revolução ecológica, o cuidado com a natureza, passa por uma mudança cultural, de atitude. É necessário mudar nosso conceito consumista e egocêntrico. Então, como disse o teólogo Manuel Gonzalo, a ecologia se converte, em uma aventura espiritual. Podemos ir construindo uma espiritualidade ecológica que nos ensine a abraçar a Terra e o Deus criador da Terra, a abraçar a vida humana e toda a harmonia que há na natureza. Nosso caminhar como cristão, na construção de um Reino de justiça e libertação, pode se ver profundamente enriquecido a partir desse desafio. A resposta, mais uma vez, está em nós.