Artigo

Seminarista Gabriel de Oliveira Bolari

Advento: Preparação para o encontro com o Senhor

Por Seminarista Gabriel de Oliveira Bolari

 

Eis que uma voz clama no deserto: “Preparai o caminho do Senhor, tornai retas suas veredas.” (Marcos 1, 3b.)

 

Iniciando o ano litúrgico, a Igreja celebra o tempo do advento, constituído pelas quatro semanas que antecedem a Solenidade do Natal do Senhor. Antes das grandes solenidades celebradas pela Igreja, ela introduz os fiéis a essas celebrações com um período, dentro do ano litúrgico, de preparação, o tempo do advento (preparação para o Natal) e o tempo quaresmal (preparação para a Páscoa). Esses tempos litúrgicos são muito fortes e ricos em símbolos. No advento, todo o povo fiel celebra e reza à espera da celebração da natividade do Salvador, o Messias, Filho de Deus, e prepara o Seu caminho (cf. Mc 1, 3).

A riqueza dos símbolos litúrgicos do Advento é imensa, desde os textos bíblicos utilizados até a cor litúrgica: o roxo. Nesse tempo litúrgico, nas celebrações, rezamos principalmente partes do livro do profeta Isaías que, mesmo tendo vivido cerca de 700 anos antes do nascimento de Jesus, é tido como referência no anúncio da chegada do Messias. Além de outros textos tirados do Novo Testamento, que falam da Salvação do Senhor ao Seu povo, como o trecho da Segunda Carta de São Pedro, “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora” (2Pd 3, 9). Bem como os trechos do Evangelho de São Marcos que narram o anúncio de João Batista, que fala daqu’Ele do qual ele não é digno nem de desamarrar as sandálias (cf. Mc 1, 7).

Nas celebrações litúrgicas desse tempo, não se canta o Glória, que é o canto “pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro” (IGMR, nº 53). Como é tempo de espera e tem um aspecto penitencial, esse canto é omitido com o intuito de preservar o ato de exultar de alegria no Senhor até a Solenidade do Natal, momento no qual os fiéis expressam toda a alegria pela chegada de seu Salvador. A cor roxa é sempre utilizada nos tempos e preparação, e no Advento não é diferente. A cor é convite à vivência de um tempo diferente, de introspecção, recolhimento, oração e espera. No terceiro domingo do Advento, a Igreja reveste-se do rosa, cor litúrgica que também é usada no quarto domingo da Quaresma (o Lætare). Esse domingo é chamado Gaudete, e nos lembra a alegria da chegada do Senhor, que está próxima. O rosa, nesse domingo, é como se misturasse um pouco do branco (alegria) do Natal no roxo (introspecção) do Advento, alertando os fiéis de que a chegada do Messias está próxima (cf. 2Pd 3, 10).

Toda a composição desse tempo litúrgico conduz os fiéis à espiritualidade própria dele, as leituras bíblicas, a cor, a omissão do Glória, tudo isso tem a profunda intenção de fazer com que as pessoas alcancem a intensa reflexão e revisão de vida. As leituras e salmos do primeiro e segundo domingo falam do quanto é difícil estar à espera do Senhor e longe d’Ele, o quanto é penoso viver a aridez causada por estarmos longe do Senhor pelo pecado. Logo, esse tempo tão importante leva-nos a rever a caminhada e o quanto é sofrido nos distanciarmos do caminho do Senhor e o quanto Sua presença nos faz falta. E o apelo da Igreja por detrás de João Batista, da preparação do caminho do Senhor, é a avaliação da nossa caminhada, se é rumo ao céu ou não, pois, como nos alerta São Pedro, o dia do encontro com o Senhor chega como um ladrão, ou seja, não se sabe nem o dia nem a hora.

Preparar o caminho do Senhor é, portanto, preparar o coração para o encontro com Ele, que chega sem que percebamos. Logo, devemos orar e vigiar, para que não caiamos em tentação (cf. Mt 26, 41). Orar e vigiar é estar sempre atento às ciladas do inimigo que aparecem no cotidiano. Para vencê-las devemos, como cristãos, estarmos sempre em oração, pois só cultivando a sensibilidade, da qual fala Santo Inácio de Loyola, percebe-se o que é do bem e o que vem do mal. O ato de preparar a vinda do Senhor não é somente individual, mas também de cunho comunitário, pelo amor mútuo. Amor esse que não se dá só amando o outro, mas amando a Jesus por primeiro, pois é O amando acima de tudo que se ressignifica e se dá o verdadeiro sentido ao amor ao próximo. Contemplando a entrega de sua vida por amor a nós é que alcançaremos o tão sonhado amor aos irmãos.

Que esse tempo, tão belo e favorável, ajude-nos a preparar o caminho do Senhor, vivendo em busca da santidade e amando a Deus sobre tudo e todos, para que possamos alcançar a vida plena junto d’Ele. Que Maria Santíssima interceda por nós, a fim de que, seguindo seu exemplo de servidora do Evangelho, possamos estar sempre disponíveis à vontade daquele que nos enviou.

 

Senhor, vem salvar Teu povo!

 

Gabriel de Oliveira Bolari - Seminarista Propedeuta