Artigo

Seminarista Alex Azevedo

Na perspectiva da cultura do encontro

Por Seminarista Alex Azevedo

 

O significado contextualizado de "cultura do encontro" requer certa hermenêutica, ou seja, uma interpretação para descobrir todos os seus fundamentos e todas as suas potencialidades. Falar da cultura do encontro como sinal cultural básico da fé cristã, não é apenas que os encontros devem ser encorajados no diálogo atual entre fé e cultura, mas que a fé pode tornar-se cultura. “Cultura do encontro” esconde-se uma profunda visão teológica e pastoral. É uma cultura do encontro, uma cultura que abraça todas as culturas, uma cultura que faz com que todos se encontrem e busquem o encontro entre todas as suas tradições e movimentos sociais.

O Papa Francisco exorta, nesta perspectiva, a promoção da cultura do encontro, na qual devemos sair de nós mesmos com o objetivo de ir ao encontro do outro para proporcionar o bem, para servir e amar. A cultura do encontro então começa, portanto, com a disposição de sair de si mesmo e ir ao reconhecimento do outro.

Centrado no diálogo, de palavras e atitudes, anúncio e testemunho, autênticas ações que aproximam e integram a todos sem distinção, mostrando um caminho que nos leva a uma verdadeira cultura do encontro, o Papa Francisco, em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, no capítulo III, reconhece que o povo de Deus é “um povo com muitos rostos” e que se expressa em diversas culturas. O que nos faz perceber que a cultura é algo que brota dentro da sociedade e do ser humano, visto que este é um ser de relação, ou seja, ao se relacionar com outras pessoas no meio social, o homem constrói e reconhece sua própria cultura.  Assim, como disse Francisco, "Construir uma cultura do encontro a serviço do Reino de Deus é um compromisso pessoal. Não é apenas uma questão de ver, mas de olhar; não é apenas uma questão de ouvir, mas de escutar; não é suficiente encontrar ou passar pelas pessoas, mas parar e se comprometer com elas nas coisas que realmente importam".

O nosso ponto de partida para compreender a cultura do encontro, é o de deixar ser encontrado por Cristo, o Bom Pastor, pois ele é o centro da vida da Igreja e da vida do discípulo missionário. O discípulo, que a exemplo dos primeiros discípulos, faz a experiência do encontro mais importante e transformador de sua vida, o encontro com o Mestre. O segundo ponto de partida acontece na experiência de encontrá-lo. Encontro este, que proporciona um novo sentido à vida, pois a fé cristã deve ser fundamentada no encontro pessoal com Ele, nos impulsionando a seguir seus passos e atitudes, como: encontrar os outros e compartilhar da alegria do Evangelho que é salvífico.

Partindo de Cristo que vem até nós e nos faz um convite - "ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”(Mt 28,18-20). Seguimos no dinamismo da cultura do encontro com uma Igreja em saída de discípulos missionários que levam a alegria do evangelho a todas às “periferias existenciais”, que estão cada vez mais repletas de tristezas, em que vidas têm sido aniquiladas por conta de uma sociedade cada vez mais individualista e desrespeitosa, sem contado com o amor. É preciso que num ambiente com tantas indiferenças busquemos respeitar a dignidade humana, indo ao encontro dos nossos irmãos mais humildes e necessitados. Deus nos ama e, provou o seu amor por nós, na encarnação de Jesus, vindo ao nosso encontro. É este encontro, como gesto de amor que devemos promover e cultivar com Jesus que faz com que propaguemos a existência e a acessibilidade a sua Palavra.

Nesta perspectiva do encontro, somos capazes de transformar o mundo em um lugar melhor, diminuindo os desencontros com a pessoa de Jesus Cristo, pois o desencontro com o Senhor provoca um vazio cego que é incapaz de perceber as carências e as pobrezas de nossa sociedade, sejam elas em diversos fatores como: material, moral, cultural, espiritual, etc. Podemos perceber o crescimento de uma crise existencial num panorama mundial, mesmo com o avanço das tecnologias. É crescente o número de suicídios no Brasil e no mundo, o que é preocupante. Muitas são as feridas e muitos são os desencontros com os presos, imigrantes e refugiados, os pobres, os jovens e as crianças, e outros. Os desencontros precisam ser superados! Diante disso, é urgente que como discípulos missionários, próximos da pessoa de Jesus Cristo, busquemos reverter está situação, ousar no encontro que resgata. Há muitos que necessitam de cuidado e carinho, para que haja vida em abundância. Carecemos de ter o olhar voltado para o Evangelho que ecoa naqueles que por inúmeras vezes são colocados às margens da sociedade. Pois o primordial em um encontro não esta só em conhecer as pessoas ou lamentar, mas estar com elas, buscar ouvi-las e principalmente ter compaixão com as mais vulneráveis.   

A importância da cultura do encontro sintoniza com a “alteridade”, que significa perceber o outro, ser o outro. Emmanuel Lévinas (1906 -1995) -Filósofo - mostra que a contramão da alteridade são os preconceitos e que reconhecer o outro com suas diferenças e pessoalidade é um modo de construir uma sociedade mais justa. Diz ainda que “O outro é a bondade do bem. É olhar, é palavra. O bem é gratuidade sem finalidades e sem fim".

Desse modo, temos de promover a cultura do encontro com a intenção de derrubar os muros da indiferença, diminuir a superficialidade das relações para que aconteça um encontro profundo e transformador com o outro, entendendo as diferenças, promovendo a justiça, igualdade e a fraternidade, que são alicerces na construção do reino de amor.

Retornando, portanto, ao ponto de partida que é Jesus Cristo, o real motivo de cada encontro, deixemo-nos conduzir pelo Espírito Santo, que nos direciona a ir ao encontro de Jesus e deixemo-nos ser encontrados por Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. O homem quando encontra o “tesouro escondido” se transforma. Este tesouro é identificado por Santo Tomás de Aquino como o ato de fé, pois enxergamos o amor de Deus para conosco e podemos renunciar tudo por causa desse amor. Quem encontra Jesus e o conhece pessoalmente, permanece com Ele, por Ele e Nele. Encontrar Jesus, eis o grande tesouro!

Ir ao encontro de Jesus na Palavra lida e meditada e deixar-se ser encontrado por Ele, nos sofridos do nosso tempo. Assim, nos tornamos ponto de encontro com Jesus, no encontro da nossa vida com a vida de nossos irmãos.  

 

 

- Por Seminarista Alex Fernandes Braz de Azevedo.