Artigo

Seminarista Raone Barglini

VALE DO JEQUITINHONHA: UMA EXPERIÊNCIA QUE REVELA JESUS NA SIMPLICIDADE

Por Seminarista Raone Barglini

 

“(...) recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra”. (At 1, 8)

No início deste ano, a convite de nosso bispo diocesano Dom Luiz Fernando Lisboa, e acompanhados do Padre Antônio Valdeir (Assessor diocesano do COMIDI), eu e meus irmãos de seminário Anthonny e Luan fomos participar da ação missionária na Diocese de Araçuaí – MG, com o coração aberto para a experiência nos colocamos à caminho. A cidade escolhida para a experiência foi Minas Novas, localizada no Vale do Jequitinhonha, famosa pelo que dizem ser uma região muito pobre e de pessoas muito simples, marcadas pelo sofrimento e pela falta de esperança. Esse pelo menos foi o cenário que a internet e as pessoas me apresentaram antes que eu partisse em missão. No entanto, com o passar do tempo, fui percebendo uma realidade que destoava da teoria.

Antes de iniciarmos a ação missionária nas comunidades rurais da cidade, fomos acolhidos com o sabor e a cultura de Minas Gerais. A cidade respira história e é abraçada por uma cultura e devoção muito forte a Virgem do Rosário, uma manifestação de Fé que motiva e convida a todos a permanecer firmes na caminhada.

Depois desse mergulho na história do povo minas-novense, fomos enviados para as comunidades. A experiência teve início no dia 09 de janeiro e duraria 10 dias, eu fui enviado a comunidade São Sebastião de Coqueiro Campo com mais dois irmãos seminaristas: Vinícius (Diocese de Cornélio Procópio - PR) e Eric (Arquidiocese de Montes Claros - MG). Ao chegarmos, fomos acolhidos com muito carinho, com simplicidade, revelando o jeito simples de Jesus se expressar em nossos irmãos. Osmar nos acolheu em sua casa e Terezina foi nossa guia junto de toda sua família, que se abriu e se colocou disponível para caminhar conosco, como verdadeiros discípulos que dizem sim ao chamado e ao envio de Jesus.

Dentre as experiências que mais me marcaram, destaco a alegria e a acolhida das famílias em nos receber, sempre muito disponíveis e atentos, desde o mais próximo até o mais distante. Além disso, a comunidade é marcada por pessoas muito talentosas, que expressam seus sentimentos através da arte, seja por meio do artesanato no barro (muito comum na região), ou também pela música e pelo desenho. O que me surpreende nessas expressões artísticas, é a capacidade de dizer ao mundo que o Vale do Jequitinhonha abriga a arte que expressa a resistência de um povo que, mesmo esquecido, sofrendo e cansado, consegue revelar o rosto de Cristo a todas as pessoas que encontram pelo caminho.

De fato, essa capacidade de se superar e de se reiventar marcaram minha experiência. Por mais que pareça seco e sem vida, como dizem ser o bioma do Cerrado, o povo me mostrou ser capaz de florescer e de mostrar que a luz de Cristo permanece viva e forte, motivando-os a ser cada vez melhores, ser cada vez mais próximos uns dons outros, enfim, ser como Jesus Cristo foi em toda sua vida.

A teoria me mostrou uma realidade seca e sem vida, entretanto, eu tive a oportunidade de ver a vida florescer e permanecer nos corações das famílias e dos jovens, o que eu pensava ser pobre, me ensinou o verdadeiro sentido do tesouro dos céus. E, quanto mais o tempo passava, mais eu percebia, que enquanto eu pensava levar as palavras do Evangelho aos que ali moravam, mais a palavra ia se transformando em vida e ia me mostrando concretamente como a misericórdia de Deus nos mantém de pé e perseverantes na caminhada.

Não existem linhas que descreveriam quão grande e motivadora foi a experiência missionária em Minas Novas. Não há palavras que descrevam os encontros, aprendizados, risadas e por que não dificuldades no caminho que foram superadas, mas no fim das contas, posso dizer que voltei para nossa diocese conhecendo mais de perto o verdadeiro sentido de ser Igreja em saída que tanto repetimos. Isso tudo com certeza motiva a caminhada e me desperta o olhar para o encontro com o irmão que reflete o rosto de Jesus mesmo que nas “grotas” da vida. Por isso, posso dizer com certeza: Vale a pena ser missionário!

 

Artigo originalmente publicado na Revista SIM (Serviço de Informação Missionária) das Pontifícias Obras Missionárias (POM): https://www.pom.org.br/sim-n-2-2022/