Artigo

Dom José Lanza Neto

UNIDADE E COMUNHÃO A SERVIÇO DA SALVAÇÃO

Por Dom José Lanza Neto

 

“O corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. (...) Vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua parte”. (1 Cor 12, 12.27)

Somos a Igreja de Cristo, formada por muitas vocações e caminhos de vida diversos, e o convite que o Senhor faz a todos é para buscarmos ser a sua presença no mundo em que vivemos, anunciando sua mensagem de esperança, fé e caridade em meio aos desafios.

Entre as iniciativas de comunhão na Igreja estão as visitas Ad Limina Apostolorum, que ocorrem a cada cinco anos e possibilitam o contato direto dos bispos com o Santo Padre e com os dicastérios da Cúria Romana, em Roma, além da veneração aos sepulcros dos Apóstolos Pedro e Paulo.

Um dos momentos mais marcantes e místicos da visita feita pelos bispos é justamente a veneração das duas colunas da Igreja, São Pedro e São Paulo - experiência oportuna em que os bispos compreendem a profundidade e a responsabilidade de sua missão em prosseguir vigorosamente na ação confiada pela Igreja.

Para levar adiante essa missão, a Igreja se organiza e se estabelece em muitos lugares do planeta para que o Evangelho e a ação santificadora do Espírito Santo estejam presentes. Desde o início, a Igreja estabelecida em torno dos apóstolos se coloca de forma dinâmica e em comunhão com todas as partes do mundo, para garantir a autenticidade do seu trabalho evangelizador. Isso é narrado pelos Atos dos Apóstolos: “Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor, e todos tinham uma grande aceitação” (4, 33).

Nisso consiste, portanto, o sentido teológico da visita Ad Limina: atentos à voz e ao discernimento destacados de Pedro e dos Papas ao longo da história, os bispos, verdadeiros sucessores dos apóstolos, assumem com ardor a atividade apostólica em suas dioceses, as Igrejas Particulares; e esta é a garantia clara e efetiva da presença da Igreja Católica, mantida graças à sucessão apostólica ininterrupta há dois mil anos.

A unidade vivida entre os bispos do mundo inteiro, em comunhão com o Santo Padre, o Papa, é um dos elementos que dá estabilidade ao Corpo Místico de Cristo e assegura a continuidade da missão cristã, não restrita aos esforços humanos, mas plenificada pela ação do Espírito Santo a soprar vigorosamente sobre os sucessores dos apóstolos.

Para que esse mistério se torne concreto no mundo, a Igreja possibilita a criação de estruturas que favorecem o caminho comum, sinodal e participativo entre os bispos. Aqui, encontra-se o aspecto pastoral dessa visita. Para essas ocasiões, a pedido da Santa Sé, os bispos preparam relatórios de suas dioceses com informações pastorais, sacramentais e administrativas, que ajudam na análise do andamento de cada diocese. No sentido pastoral, o encontro com o Papa torna-se oportunidade de estreitar os laços de verdadeiros irmãos apóstolos.

A fraternidade episcopal é destacada pelo Diretório da Visita Ad Limina como elemento central do encontro dos bispos com o Papa. Junto ao “Sucessor de Pedro e Cabeça do Colégio [Episcopal], o Bispo que faz a visita « ad limina » encontra idealmente a universalidade dos seus irmãos Bispos de todo o mundo; encontra-os naquela relação viva de comunhão e ponto de convergência que é para todos, o irmão colocado como chefe dos irmãos”.

É perceptível como a Igreja, Mãe e Mestra, garante-nos a salvação pelo poder das chaves do Reino confiadas a Pedro e a seus sucessores (cf. Mt 16, 19). Mesmo em nossa fragilidade de vasos de barro a transportar grande tesouro (2 Cor 4, 7), compreendemo-nos como cidadãos dos céus (Fl 3, 20) e, por isso, a nossa missão torna-se grandiosa em nossa peregrinação na terra, pois em nós o Senhor confiou e nos favorece o trabalho com a presença viva do Espírito Santo.

Desse modo, comunhão e unidade tornam-se tão necessárias para que a Barca de Pedro, a Igreja, mantenha-se fiel à missão de Jesus. Enquanto os apóstolos mantiverem-se como sentinelas, a nos antecipar os riscos e os desafios de nosso tempo e a nos apontar o caminho coerente do Evangelho para seguirmos confiantes como Povo de Deus, seremos a Igreja de Cristo.