Artigo

Dom Luiz Fernando Lisboa, CP

"ENVIOU-ME PARA EVANGELIZAR OS POBRES" (Lc 4,18)

Por Dom Luiz Fernando Lisboa, CP

 

No dia 11 de Fevereiro de 2021, o Papa Francisco nomeou-me como 5º Bispo diocesano de Cachoeiro de Itapemirim, transferindo-me da Diocese de Pemba, localizada no extremo Norte de Moçambique, África. A entrada, a serviço da Diocese de Cachoeiro, deu-se no dia 20 de Março de 2021, no auge da pandemia.

A experiência missionária vivida em Moçambique deixou marcas indeléveis na minha mente e no meu coração, sedimentou a minha vocação e me ensinou que depois de ter vivido na África, a África nunca mais sairá de mim.

A África é um continente com 55 países, com centenas de línguas, com vasta e variada cultura, berço da humanidade, terra de grandes santos e santas (Santo Agostinho, Santa Mônica, São Benedito, Santa Bakita, Santa Efigênia, entre tantos), grandes líderes políticos como Nelson Mandela, da África do Sul, e Julius Nyerere, da Tanzânia (em processo de canonização) e grandes líderes religiosos, como o Arcebispo Anglicano Desmond Tutu, da África do Sul.

A Diocese de Pemba, onde fui missionário por cerca de 20 anos, dos quais, sete anos e meio como bispo, enfrenta, nos últimos 4 anos, uma terrível guerra terrorista que já matou mais de 4 mil pessoas e provocou o deslocamento de quase um milhão de pessoas. A Igreja Católica sempre falou e lutou em defesa da população, sendo perseguida, caluniada e proibida de falar. Os missionários e missionárias se desdobram para atender os deslocados porque a guerra ainda não terminou. Oremos pelo povo moçambicano e por todos os povos que enfrentam guerras por causa de seus recursos naturais.

Na Diocese de Cachoeiro tenho encontrado muitas alegrias e desafios. Entre as alegrias, quero destacar algumas: um povo acolhedor e de muita fé, um clero unido e trabalhador, um grupo expressivo de diáconos permanentes e uma Escola diaconal, Curso de Teologia na Escola Diaconal aberto às lideranças da Diocese, presença riquíssima de vários carismas, sobretudo da Vida Religiosa Consagrada masculina e feminina, o Mosteiro das Irmãs Carmelitas, muitas lideranças preparadas e ainda dispostas a crescer, conselhos pastorais e econômicos em todas as Comunidades Eclesiais de Base e Paróquias, grande número de Círculos Bíblicos, funcionamento e organização de oito regionais, liturgia viva e vibrante, capelas e casas paroquiais bonitas e dignas, organização diocesana do dízimo, presença e liderança da Rádio Diocesana, enfrentamento responsável da pandemia nas comunidades. A lista ainda poderia e pode ser ampliada por quem lê este pequeno texto.

Os desafios nos motivam e nos desinstalam e, por isso, não precisamos temê-los, mas enfrentá-los. Eis alguns deles: reorganização das Pastorais Sociais que são aquelas voltadas para os mais vulneráveis da sociedade, reorganização de uma pastoral vocacional mais corajosa e assumida em cada comunidade, maior sintonia e trabalho conjunto com os movimentos sociais e organizações da sociedade, abertura para um trabalho ecumênico e de diálogo interreligioso, maior envolvimento das cristãs e cristãos nos conselhos municipais, investir na formação para a cidadania e sobre a Doutrina Social da Igreja, dar suporte formativo aos católicos envolvidos na política partidária e na gestão pública, oferecer mais retiros e formações visando um aprofundamento da espiritualidade de toda a Iiderança e dos cristãos em geral, aprofundar a presença e voz da Igreja em todos os meios de comunicação e mídias sociais, retomar com vigor a missionariedade da Igreja diocesana, colaborar na organização do novo Regional Leste 3 da CNBB, do qual fazemos parte.. Complete a lista, afinal os desafios são para todos nós que somos a Igreja.

Em sintonia com o Papa Francisco que, em Outubro de 2021, anunciou e deu abertura ao próximo Sínodo sobre Sinodalidade, nos colocamos em movimento, em Sínodo, a caminho. Esta será a maior consulta jamais feita por uma Instituição em todo o mundo. Ninguém deixe de participar, em sua comunidade ou paróquia, nos debates sobre o Sínodo para falar sobre a nossa Igreja, para fazer uma revisão, para lançar perspectivas, caminhos novos. Ninguém deve ficar de fora, lançando pedras ou criticando, mas a partir de dentro, participando, se responsabilizando.

A partir deste início de 2022, toda a nossa organização evangelizadora, administrativa e pastoral diocesana se dará através dos novos Vicariatos que foram criados: Vicariato para a coordenação pastoral, Vicariato para a Ação Social, Vicariato de Comunicação, Vicariato Judicial e Vicariato de Administração e Economia.

Na Diocese, na paróquia, na comunidade, na Igreja como um todo, na sociedade em geral, a participação de cada um, de cada uma, é fundamental. Nenhum de nós é expectador ou expectadora. Somos protagonistas, somos parte, temos responsabilidade. Juntos, por uma Igreja acolhedora, samaritana, misericordiosa e profética.

Assim como iniciei, quero terminar: o versículo bíblico que dá título a este texto e que é meu lema de ordenação presbiteral e episcopal, é parte da missão de Jesus. A missão dEle é também a nossa. Somos continuadores de Sua missão, seus instrumentos. Convido a cada um e a cada uma a repetir muitas vezes comigo este mandato do Espírito Santo: “Enviou-me para evangelizar os pobres”.