Artigo

Pe. Rogério Guimarães

ANO DO LAICATO 2: A IDENTIDADE DO LEIGO

Por Pe. Rogério Guimarães

 

Continuamos nossa reflexão sobre os leigos na eclesiologia do Povo de Deus, por ocasião do ano do laicato. No primeiro artigo tratamos da temática do Povo de Deus e a questão do Leigo. Agora vamos abordar a identidade do leigo em Jesus Cristo.

 

Com a eclesiologia do Povo de Deus, a Igreja faz uma verdadeira teologia do laicato. Os leigos não são definidos pela via negativa “(...) não são nem clérigos nem religiosos”[1]. Sua identidade é definida a partir de sua radical pertença a Cristo e participação em Sua missão. Oito números[2] são dedicados a identidade e missão dos leigos na Constituição Dogmática Lumen Gentium.

 

O Concílio declara a igual dignidade de todos, clero, religiosos e leigos: “Tudo o que foi dito acerca do povo de Deus vale igualmente para os leigos, religiosos e clérigos”[3]. Parece pouco, mas nessas palavras o Concílio Vaticano II dá cidadania aos leigos, tornando-os sujeitos eclesiais, participantes ativos de toda missão do povo de Deus.

 

Por nome de leigo o Concílio identifica aquele fiel cristão que tem como característica a índole secular, que procura o Reino de Deus “exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus”[4], que é fermento bom no mundo.

 

A teologia batismal é a chave de interpretação da identidade dos leigos (não somente dos leigos, mas de todo o povo de Deus). Pelo batismo os fiéis são incorporados a Cristo – que foi leigo no seu tempo – são sacramento de Sua presença no mundo e tomam parte de Sua missão de propagar o Reino de Deus. Essa incorporação a Cristo é a sua mais radical identidade enquanto sujeito eclesial:

 

“Através do batismo cada qual recebe um mandato e este mandato deve ser vivido no cotidiano da vida, nas particularidades, pois cada ação compreende o todo e cada ação é desenvolvida na condição que lhe é própria”[5].

 

O batismo é o vínculo que une todos os membros do povo de Deus. É a base comum, que toma forma específica na identidade e na missão dos leigos. Dessa incorporação a Cristo, o leigo é membro do povo de Deus, peregrino como o povo, rumo a pátria definitiva.

 

Dessa identidade dos leigos surge, igualmente, a identidade leiga da Igreja ou, segundo o teólogo Dom Bruno Forte, a laicidade da Igreja que é o abandono do clericalismo no interno da Igreja e da atitude bélica na relação com o mundo. A teologia do laicato, sua identificação radical a Cristo pelo batismo traz um novo recorte à identidade mesma da Igreja e de sua missão:

 

“A redescoberta dessa novidade, de par com o resgate da eclesiologia total, traz consigo a exigência de superar, não só a divisão da Igreja em duas classes, mas também a conexão específica leigos-secularidade: se todos os batizados recebem o Espírito para doá-lo ao mundo, todos devem se empenhar no front da ordem temporal para anunciar o Evangelho e vivificar a história”[6].

 

A teologia do laicato dá à Igreja sua condição de participante do mundo, vendo nele a ação de Cristo e, ao mesmo tempo, percebe em si mesma a laicidade, o seu comum chamado a ser no mundo sal e luz. Ela significa o abandono de uma eclesiologia de opostos (interno e externo; clero e leigo). A redescoberta da teologia do laicato é a redescoberta de um dado fundamental de sua própria identidade e missão, de sua communio.

 

[1] JOSAPHAT, C. Vaticano II: a Igreja aposta no amor universal. São Paulo: Paulinas, 2013, p. 81.

[2] Números 30 a 38.

[3] LG 30.

[4] LG 31.

[5] C. A. KUZMA. A identidade dos leigos. Texto apresentado e discutido em sala de aula no dia 21 de maio de 2015.

[6] B. FORTE. A Igreja ícone da Trindade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 40.