Artigo

Pe. Carlos Renato Carriço Gomes

LÁGRIMAS: ESPELHO DA ALMA

Por Pe. Carlos Renato Carriço Gomes

 

A beleza de existir nos insere no mundo das circunstâncias que nos levam a fazer escolhas a todo momento. E elas, com poder que têm de determinar nossas vidas vão nos fazendo navegar pela experiência de viver. E viver é uma experiência simples e complexa, ordinária e extraordinária. Entre estas experiências está o fato de termos a capacidade de nos comover, da compaixão, da misericórdia, da solidariedade. E algo que nos remonta a isso são as lágrimas que derramamos.

 

Elas chegam muitas vezes sem avisar. Na tristeza, na dor, na alegria, na morte de alguém, num escutar uma história, numa saudade, com um amor do presente ou que foi embora, numa homenagem a alguém, numa música, numa lembrança, diante da tv, de uma paisagem e até num gargalhar. Elas têm o poder de nos conectar com o mais profundo de nós e nos levar além do nosso eu e nos unir aos outros na alegria e na dor. Quem nunca chorou quando viu alguém chorando. Quem nunca chorou de rir da barriga doer ouvindo uma piada ou um fato engraçado. As lágrimas são pontes ou deveriam ser, são “enchentes” de emoções que evocam nosso eu mais profundo, são águas que lavam nossa alma e tiram os pesos da vida nos humanizando cada vez mais.

 

Chorar de tristeza ou de rir é algo que torna nossa alma transparente. Transparência esta que deve nos abrir ao encontro de nós mesmos e dos outros nos tornando misericordiosos com quem encontramos pelo caminho. E nesse contexto, consolar e abraçar são verbos que todos nós devemos conjugar e colocar em ação em nossas vidas. Quem nunca abraçou quem chorasse por algum motivo. Quem nunca recebeu um ombro quando precisou derramar suas dores. Lágrimas derramadas são sagradas e merecem o respeito de todo ser humano.

 

Um coração endurecido pode perder sua capacidade de se comover e chorar. Perde sua sensibilidade aos outros e ao mundo e aí podemos correr o risco de perdermos esta característica que nos torna o que somos: humanos. Estamos precisando de sensibilidade independentemente de gênero. Tirar nossos corações das prisões do pessimismo e dás constantes más notícias e desbravar horizontes de luz em meio às trevas em que podemos estar. Um coração sensível é um coração humano e vice-versa. Estamos perdendo aos poucos nossa capacidade de chorar, seja de alegria ou de tristeza. Precisamos estar sempre sorrindo aparentando que está tudo bem. Não nos sentimos no direito de chorar e dizermos que estamos tristes. E ao deixarmos de senti-las elas voltam numa depressão ou numa doença. Estamos perdendo nossa capacidade de rir de nós mesmos, fazer piada dos fatos que nos acontecem, de não levar a vida tão a sério. Fazer da vida uma “graça”.

 

É certo que estamos vivos, sendo e fazendo, chorando de rir ou de tristeza, e sempre em busca de um sentido para viver. E nesse enredo que nós escrevemos não percamos nossa sensibilidade a nós mesmos e aos outros, derrame suas lágrimas, viva intensamente, sempre pensando nas consequências de suas escolhas e não perca as oportunidades que a vida nos dá de nos humanizarmos pelas lágrimas que derramamos ou pelas pessoas que consolamos. Emocione-se com a vida e faça dela um prêmio a ser constantemente conquistado. E neste caminho não se esqueça de olhar pelos que choram se solidarizar e se compadecer por eles. Porque lágrimas são espelho da alma.

 

 

O POEMA

Lágrimas: Espelho da alma

 

Nasce na tristeza e na dor, na alegria e no louvor

Chega de mansinho ou como um trovão

Amadurecendo o amor

Humanizando o coração

 

Experiência tão humana e tão divina

Ela nos aproxima e nos afasta

Nos envolve e fascina

E para a nossa humanidade nos arrasta

 

Sensibilidade que nos toca o olhar

Marcando a vida para sempre

Restaurando nosso jeito de amar

Para viver eternamente

 

Rolam sobre nosso rosto

De maneira brusca ou delicada

Revelando seu composto

Espelho da alma risonha ou machucada

 

Experiência que convoca

A ser abraço acolhedor

Ombro que consola

A ser unidos no amor